Ao fazer uma música, é como se você estivesse contando uma história. É um processo semelhante a fazer um filme. Vamos fazer esse paralelo com os filmes para darmos nome a algumas partes de uma composição musical. Isso são apenas idéias para ajudar você a pensar, então apesar de todas essas idéias, não tenha medo de ser completamente subversivo e inesperado em suas composições.
Vamos lá então… quais partes você pode encontrar tanto em um filme quanto em uma música?

* Introdução:







Vários filmes começam com uma cena que já dá o “clima” que vai percorrer todo o filme. Já assistiu algum filme da série Jogos Mortais? A primeira cena já é uma morte super cabulosa! E muitos param de ver o filme aí, porque já sabem que não vão aguentar o resto do filme, que provavelmente vai ser no m

Como Compor Música - Violão
esmo ‘nível’ da primeira cena. Percebe a importância de uma boa introdução? Vamos ver mais exemplos disso em filmes. Lembra do começo de Matrix? É uma cena de ação com as lutas bem no ‘estilo Matrix’ mesmo. A introdução dá o tom que vai ter ao longo do filme inteiro. Outro exemplo? O Senhor dos Anéis, que começa com uma narrativa que conta a história dos anéis, mostrando as raças, os lugares… e dando a idéia ao espectador de como vai ser o filme. Se a introdução conquista a pessoa, ela vai assistir com prazer o resto do filme. Pense em outros exemplos de filmes.
Agora vamos ver como isso se aplica musicalmente. Tente lembrar das músicas com os melhores começos que você conhece, com introduções que te emocionam. Eu particularmente gosto quando há um riff, um tema musical, executado por um único instrumento na introdução… e aí entra a banda inteira em cima desse riff. Isso é muito comum em bandas de rock. O exemplo mais clássico disso é a Smoke in The Water (Deep Purple).
Smoke In The Water – Deep Purple


Quem não se empolga quando começa a guitarra sozinha executando aquele riff memorável? Uma banda que faz introduções desse tipo com maestria é o Iron Maiden. Ouça The Trooper, Fear of the Dark e The Number of The Beast que você entenderá o que eu estou falando.
Mas essa ideia do riff é apenas uma dentre muitas possíveis introduções para uma música. Vamos ver outras possibilidades:
- Uma introdução completamente diferente do resto da música: Você provavelmente já viu algum filme que começa de um jeito e de repente toma outro rumo que você nunca imaginaria. Os que me ocorrem no momento são Psicose, O Menino do Pijama Listrado, Encontro Marcado (quem imaginaria que aconteceria aquela famosa cena do carro que mudaria o rumo do filme?). Na música é a mesma coisa. Uma música clássica interrompida por um rock pesado. Uma introdução de forró seguida por uma música eletrônica dançante. Um começo caótico e pesado seguido de um verso calmo com a dinâmica lá em baixo. Na música pop, que não foge muito de uma mesma idéia, isso é mais raro. Os maiores exemplos são em bandas que não se preocupam muito em manter um formato comercial, como no rock progressivo. Quer um bom exemplo de música que surpreende do começo para a próxima parte? Escute a Live and Let Die do Paul McCartney.
Live and Let Die – Paul McCartney & Wings


- Introdução “atmosférica”: é quando, sem precisar de um riff marcante, a música começa fazendo a base semelhante ao resto da música, já criando a atmosfera certa para o verso entrar na hora que quiser. É o tipo mais comum de introdução. Sabe quando você está fazendo aquela jam com seus amigos no estúdio, e alguém fala: “Puxa um blues aí!”. Aí alguém começa aquela base “Tam, tutam tam taram”, que vai ficar repetindo enquanto os outros solam? É tipo isso. Ou quando começa aquela música eletrônica estilo “tuntz-tuntz”, criando a atmosfera básica que vai durar o resto da música, onde acontecerão alguns detalhes diferentes. Ou quando você pega o violão e toca os acordes dos versos antes de começar a cantar, para ir se acostumando com o ritmo, o tom e o andamento. É isso o que eu quero dizer com “introdução atmosférica”!

* Versos:

É onde a música vai se firmar. Às vezes os compositores investem tudo no refrão e deixam o verso de qualquer jeito, só pra enrolar o ouvinte até chegar na parte que ‘realmente importa’. Isso não é bom. Um verso marcante é fundamental para a sua música. Para fazer um verso marcante, tem uma estratégia que eu uso às vezes ao compor que é o seguinte: Vá improvisando até compor um verso e um refrão para a música, então você descarta o verso e usa o refrão que você fez como verso. Aí você inventa outro refrão melhor ainda. Sacou?
As melhores músicas são aquelas em que todas as partes são boas. Veja as músicas dos Beatles. Cada parte é tão marcante que às vezes nem faz sentido rotular uma parte de “verso” e outra de “refrão”. São partes muito boas que formam uma música. Exemplos: Eleanor Rigby, While My Guitar Gently Weeps.
While My Guitar Gently Weeps – The Beatles


Em termos de letra, é nos versos onde você irá aprofundar mais o tema. É neles que você tem mais ‘espaço’ para contar a sua história, já que o refrão geralmente é um ‘resumo’ de tudo.

*Pré-refrão:

Geralmente é apenas uma palavra mais prolongada, ou uma virada de bateria… mas há músicas que realmente tem um “pré-refrão” bem definido, que está na transição dos versos para o refrão, que ficaria brusca demais se não tivesse aquele pedaço de passagem. Exemplo: Na música Only Yesterday (The Carpenters), aquela parte “Baby, baby” é um claro pré-refrão.
Only Yesterday – The Carpenters


* Refrão:

Como eu disse antes, o refrão é a síntese da composição. É a parte da música que mais vai ficar na cabeça das pessoas. Então ele tem que ser bom o suficiente para repeti-lo algumas vezes, deixando o ouvinte mais e mais satisfeito! Se o refrão é ruim, a música inteira se torna pobre. Então gaste tempo e esforços aqui, porque vai valer a pena.
O mais normal é o refrão ser uma espécie de clímax da música. 90% das músicas pop são assim: versos mais calmos e graves, com refrões agitados em tons mais altos. Mas mudar isso às vezes pode ser interessante. Um exemplo que eu gosto muito de refrão que começa mais vazio do que o verso que o antecede é na música Ashes to Ashes, do Blind Guardian.
O refrão também pode ser um alívio de uma tensão que há nos versos. É quando a música vem com frases rápidas, em um ritmo quebrado, e cai em um refrão expansivo, com as palavras prolongadas. Como o refrão da “Do Seu Lado”, do Jota Quest (O amooooooor/ é o calooooor…).
O refrão pode ser uma estrofe completa (Ovelha Negra – Rita Lee), só o título da música (Sunday Bloody Sunday – U2), pode acontecer no final da frase do verso (I Still Haven’t Found What I’m Looking For – U2), o título mais alguns versos (She Loves You – Beatles), a repetição de uma frase poética (Epitáfio – Titãs), o refrão pode ser até uma frase instrumental (Black Night – Deep Purple)! E tem muita música boa sem refrão. As possibilidades são infinitas!

* Solo:

Emoção, virtuosismo… tudo pode acontecer nesse momento em que o instrumento toma o lugar da voz e toca o ouvinte de maneira que as palavras não conseguiriam. É essa a hora de explorar o potencial dos instrumentos presentes na banda: guitarra, teclado, baixo, bateria, flauta, violino, sitar… o que ficar melhor. Mas não coloque o solo ali só por tradição. O solo tem que fazer sentido dentro da música.
O mais comum é o solo acontecer em cima da harmonia do refrão, mas pode ser mais interessante o solo ter uma identidade própria na música, com uma harmonia específica do solo. Outra peculiaridade do momento do solo é que é nessa hora que você poderá despertar a atenção dos mais entendidos de música. Acontece mais ou menos assim: Se você quer conquistar o povo em geral, faça um bom refrão, que pega… Se você quer conquistar fãs, faça bons versos, que eles irão decorar e cantar. Se você quer conquistar músicos, faça solos espetaculares que eles vão querer aprender a tocar.
Um dos solos que mais me emociona tem apenas alguns segundos: o solo de guitarra da Only Yesterday, do The Carpenters. Vale a pena ouvi-lo.

* Ponte:

É a “parte diferente” da música. Sabe nos filmes de guerra quando no meio da pancadaria a música agitada se transforma em uma voz suave e fica tudo em câmera lenta, antes do pau quebrar outra vez? A ponte é a parte que vai dar o equlíbrio para a sua música. É quando aparece uma frase de esperança depois de a composição inteira ter uma letra de angústia. É quando entram os instrumentos com peso total depois de uma música inteira crescendo num clima suspenso. Para você entender bem o que é uma ponte, ouça a música Stand Up, do Fireflight. Nessa música, a ponte começa em 2:09.

* Final:

Terminar a música de um jeito criativo é uma das coisas mais difíceis ao compor. Qualquer música dá pra acabar simplesmente ralentando na última nota do refrão e fazendo barulho depois, mas o desafio está em encerrar a música de maneira tão boa quanto o resto da música. Experimente fraseados, breaks súbitos, uma palavra sussurrada… use a criatividade! Só use o fade-out se ele realmente fizer sentido, como se fizesse parte do “enredo” da canção ela ir se afastando aos poucos. Senão, evite o fade-out no final das músicas, até porque, para tocar a música ao vivo, ou você vai ter que inventar outro final, ou terá que fazer o fade nos próprios instrumentos…
Eu particularmente gosto muito das soluções conseguidas nos finais das músicas da Maaya Sakamoto. Ouça as músicas Universe e Alkaloid e preste atenção no encerramento.

* Outros:

Coloquei esse “Outros” aqui só pra ficar claro de que não há uma fórmula pronta. O objetivo de tudo o que foi falado aqui é apenas de expandir a sua mente, nunca de limitar. Compor música é uma arte, e como qualquer outra arte, é fruto da infinita criatividade humana.

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