Dias atrás, escutei minha mãe conversando com uma amiga pelo telefone. Não costumo ouvir as conversas alheias, mas é difícil deixar de prestar atenção quando ouvimos o nosso nome, não é mesmo? Nessa conversa, ela disse a seguinte frase: “Acho que meu filho está envolvido com alguma coisa ruim! Acho que ele é hacker!”. Fiquei assustado com a afirmação.

Passei algumas horas pensando em como falar com minha mãe sobre o assunto. Tomei coragem e perguntei: “Mãe, por que você disse para a dona Glorinha que eu sou hacker?”. Era melhor não ter perguntado, porque fui atingido por uma enorme quantidade de golpes ao meu conhecimento tecnológico.

Vou perdoá-la porque sei que são outros tempos, mas confesso que na hora fiquei um pouco ofendido. Mas vou direto ao assunto. Decidi compartilhar aqui no Tecmundo a minha experiência. Aposto que muita gente vai se identificar comigo.
Meu filho não usa a internet comum

Todo mundo, pelo menos neste planeta, usa a mesma internet. Independente do tipo de conexão que você tenha, a rede que você acessa é a mesma rede que eu acesso. Mas para minha mãe, isso não é verdade. Ela e as amigas dela se conectam em vários sites e até participam de alguns serviços que são considerados menos iniciantes, como salas de bate-papo e o Orkut.



Por isso eu me perguntei: “Mas como você pode dizer que a internet que você usa não é a mesma que eu uso, mãe?”. A resposta dela foi muito direta e me calou por alguns minutos. Naquele instante, eu fui tomado pela depressão. Jamais havia imaginado que esse dia chegaria, mas ele chegou. “Ah, filho! Você não usa a Internet, olha! Você usa esse colorido aí!”. Pois é, amigos. Ela estava se referindo ao Google Chrome.
Meu filho sabe invadir Orkut

Não é raro minha mãe falar para mim algo parecido com: “Filho, a Dona Sônia está desconfiada do marido dela. Eu prometi que você vai invadir o Orkut dele para descobrir tudo sobre aquele cachorro!”. Adianta explicar para ela que eu não sou um hacker? Acertou quem disse que não.

Mas a parte chata não é tentar descobrir a senha do pobre homem (que geralmente tem a ver com a data de nascimento ou com o time de futebol do coração). O pior mesmo é fazer isso com cinco mulheres berrando no seu ouvido e pressionando a decifração do código. Ai de nós, mortais, quando não conseguimos.

Há também aquelas vezes em que tentamos de tudo e nada dá certo. Quando isso acontece, minha mãe me olha com um olhar mortal de decepção e vergonha. Admito: mais decepção e vergonha tive eu, quando a vizinha adivinhou a senha do sujeito combinando o nome dos filhos deles.
Meu filho fala com estranhos

Na década passada, surgiu um novo elemento na internet mundial: as redes sociais. Com elas, tornou-se possível conversar com pessoas do mundo inteiro, compartilhar materiais sobre interesses em comum e muito mais. Mas se esqueceram de avisar a minha mãe.



Agora, cada vez que ela me vê no Facebook, conversando com um amigo da Ucrânia, ela acha que eu estou falando com gente má. “Filho, lembra-se de quando você era pequeno? Eu sempre dizia para você não falar com estranhos! Isso ainda vale, eles só querem roubar seus órgãos!” Só me resta dizer: “Mãe, nós estamos falando sobre música, não sobre encontros em banheiras de gelo!”.
Meu filho faz contrabando

Quase todos os meses chega alguma encomenda para mim. Isso nunca incomodou ninguém lá em casa. Pelo menos era o que eu pensava, até o dia em que meu pai veio me perguntar se eu sabia que contrabando é crime. Afinal de contas, por que eu estaria recebendo pacotes de Hong Kong, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha?

Eu sempre compro muitos itens pela internet, e vários deles não podem ser encontrados no Brasil (principalmente alguns discos de vinil). Por isso, encomendo de outros países. O problema é que, para meus pais, importar qualquer produto pela internet significa que estou cometendo um crime.
Meu filho sabe arrumar computador

Mãe, pai, irmão menor, avô, tia, vizinhos ou parentes distantes. Se qualquer uma dessas pessoas está com o computador estragado, minha mãe diz: “Meu filho arruma para você!”. Às vezes, parece que “Meu filho sabe arrumar computador!” é o “Meu filho faz Direito” do século XXI, de tanto orgulho que ela tem de dizer isso.

Antes ela consultasse a minha agenda para saber se eu tenho tempo para fazer isso, mas não. Mãe é mãe. Lá vou eu com uma completíssima caixa de ferramentas (uma chave de fenda e uma borracha, apenas) e todo o meu conhecimento em limpar os pentes de memória da máquina para fazer com que ela volte a funcionar.



Nunca reclamo de ter de ajudar, mas o que me incomoda, e muito, é o fato de as pessoas esquecerem que eu tenho uma vida. E as partidas de Counter Strike? Onde ficam? Deixando isso de lado, há mais um pequeno fator que me deixa danado: pessoas bisbilhotando no meu trabalho.

Estou lá, fazendo o favor de arrumar tudo, sem cobrar nada. Tudo o que eu peço em troca é paz para realizar as tarefas, em vez de todos os moradores da casa ficarem atrás de mim para ver cada passo. Sem contar os pedidos: “Olha, cuidado para não apagar os joguinhos do Júnior” e “Você pode aproveitar e escanear essas fotos para mim?”. Gente, vida de nerd não é fácil!
Meu filho faz sites

Há alguns meses eu fiz um curso de HTML e CSS para iniciantes. Somei o que aprendi nas aulas ao conhecimento que obtive em tutoriais na internet e comecei a fazer alguns trabalhos para ganhar um dinheiro extra. Logicamente estou longe de ser um web designer profissional, mas já consigo fazer algumas páginas bonitas.



O problema é que meu pai está oferecendo meus serviços para todos os amigos dele. Não, na verdade esse não é o problema. O problema mesmo é que eu fiz um site para a loja de tintas do vizinho, um para o escritório de advocacia do outro e só ganhei 50 reais. Pois é, ele pensa que fazer site é brincadeira.

Fonte: http://www.tecmundo.com.br

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